terça-feira, 13 de novembro de 2007

My space


Não sei se ficou muito claro: o link que deixei na última postagem é de outro serviço oferecido pelo Google, de que os compositores têm lançado mão ultimamente para divulgar seu trabalho. É gratuito como o blogspot e se chama myspace. Funciona como um orkut musical, pelo que entendi até agora. Vou explorar melhor e depois conto mais. Sou ruim com essas tecnologias, mas uma amiga está ajudando, a Thais Roldan.

Postei lá três canções, duas delas, parcerias com Luiz Pinheiro: Na de casal e O marginal [zero], ambas do repertório de Cássia Eller. A primeira é cantada por Zuleika Walther e O marginal, pelo próprio, digo, por Luiz Pinheiro. Ambas estão no nosso CD Cássia secreta que contém as nossas canções que a Cássia cantava.

A terceira é Poltrona verde, uma parceria “póstuma”, digamos assim, com Caio Fernando Abreu, que deixou essa letra no seu romance mais famoso Onde andará Dulce Veiga?. Musiquei o poema para a trilha do filme homônimo, que já foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e será lançado em breve no circuito.

Na versão do myspace, eu canto a música com Carolina Dieckmann. No filme, ela canta sozinha; só faço uma pontinha como saxofonista, e não ao seu lado, mas ao de sua “mãe”, Maitê Proença. Ambas as personagens são cantoras.

Espero que vocês gostem. Me fez bem ter um espaço musical na rede, complementar ao blog. Olha o link de novo: http://www.myspace.com/hermelinoneder

sábado, 13 de outubro de 2007

Análise em praça pública


Numa conversa com um amigo psicanalista, comparávamos Caetano Veloso e Chico Buarque, de vários ângulos, como letristas, como melodistas e harmonistas, como figuras públicas.

Como letrista, tecnicamente falando, Chico ganhou longe, até Caetano concordaria. Chico, se escrevesse em inglês, seria tão famoso e respeitado como Cole Porter.

Melodista e harmonista são duas palavras feiinhas, quase tanto quanto feeinha, mas úteis para referir quem lida com os outros dois aspectos da canção, a melodia (sem a qual não há canção) e a harmonia (sem a qual há, mas que, uma vez, inventada no século XIX, praticamente nunca mais se fez canção, ou mesmo música pura, sem se basear nela). Ainda de passagem, outra palavra esquisita em português designa o compositor de canções, que no Brasil é conhecido como compositor: o certo seria cancionista. Em inglês é mais legal: Cole Porter não é composer, é songwriter.

Voltando à vaca fria, chegamos à conclusão que, na parte musical, Chico é mais sofisticado, rebuscado ou elaborado, mas traz um ranço melancólico, um coisa que gosto de chamar de banzo. Caetano, mais simples, é mais divertido, mais “generoso” (usa mais gêneros).

Quanto à parte pessoal, deu Chico como elegante, bem resolvido, vindo de família mais fina, e Caetano como mais importante psicologicamente, justamente porque mais mal resolvido: ele se torna importante por fazer análise em praça pública. Vira referência, ponto de discussão, polêmica. O Chico, a gente já sabe o que ele pensa faz tempo: ele gosta de futebol, de Cuba e ninguém tem dúvida que seja hetero.

Tudo isso pra dizer que estou pensando em parar com o blog. Ando cada vez mais constrangido de fazer análise em praça pública. E, mesmo que goste de escrever sobre coisas que estudei, como música e canção, o que sempre me motivou foram as coisas que vinham de dentro do coração, ainda meio sujas de sangue.

Prefiro Caetano como pessoa, gosto mais dele, devo mais a ele. Mas as pessoas que acompanham o blog precisariam entender porque escrevo cada vez menos, não é? E também para o caso as postagens cessarem de vez ou de o blog sumir.

Juro que não é chantagem porque ninguém comentou a postagem anterior: quem sabe não ando mais bem resolvido...

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Ética e estética se confudem: ainda bem!

Ando realmente ligado em como a beleza nos inspira a ser melhores.

Atitude bonita é uma expressão da relação entre ética e estética.

Dizem que a arte precisa do ócio. Em outras palavras, precisa de tempo e de paz. Cervantes escreveu o maior romance de todos os tempos na cadeia. Sei lá como encarar a relação entre cadeia, ócio, tempo e paz, parece bastante complexo. E a gente sabe que determinadas pressões são realmente produtivas, que há pessoas que só produzem sob pressão.

Na verdade, eu gostaria de afirmar que é preciso abaixar a ansiedade para se produzir estética e ética, mas nem isso parece afirmável.

Como é complexa a vida humana. E deve vir dessa complexidade o fato de precisarmos tanto da beleza.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Beleza, arte e esperança

O papel da beleza e da arte é nos dar esperança. Na verdade, trata-se apenas de beleza: aquela criada pela natureza e a criada pelo homem. Diante do belo, do bem acabado, sentimos que algo maior é possível, foi alcançado.

Isso nos dá a esperança de fazer alguma coisa boa com nossa vida.

(É bom ter cuidado com as pessoas bonitas. Se forem apenas bonitas, ou seja, se não criaram uma "obra de arte" com sua própria vida, a esperança que nos despertam pode ser enganosa.)

sábado, 1 de setembro de 2007

Depressão e fama

Fama é felicidade testemunhada, acompanhada. Depressão é infelicidade solitária.

Deveria ser o contrário: felicidade solitária, íntima. E infelicidade acompanhada.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Agora eu tenho tempo


Segunda-feira, dia mais ou menos tradicional de postar. Tenho apenas vontade de dizer que vivo um paradoxo mais ou menos feliz: quanto mais envelheço, sinto que há mais tempo. “Agora, eu tenho tempo”. Essa frase me ocorreu esses dias, assim, do nada, de dentro, sem que fizesse força para pensá-la.

Acho que fiquei menos ansioso ao perceber que corria atrás de coisas que só me deixavam ansioso: casamento e fama. A cultura, a sociedade, a educação, a religião, o cinema, a TV, e mesmo a psicanálise nos colocam parâmetros de sucesso – estar casado, ser rico, famoso, bonito etc. – que podem não corresponder àquilo que um determinado indivíduo precisa de fato. De todos os equívocos, o casamento é o pior. Nascemos e morremos sós, nossos sentimentos e emoções mais poderosos são íntimos, incomunicáveis ao pé da letra. Como podemos nos orientar para uma felicidade apenas se compartilhada? Entretanto, ‘estar casado’ é apreciado até para candidatos à Sociedade Psicanalítica. É quase como escolher empregada doméstica evangélica: essa não vai roubar.

Acredito que feios, solitários, remediados, anônimos, deficientes físicos, doentes etc. possam ser felizes. Epicuro já mostrou o caminho: procurar o bem-estar, o prazer. Não de forma imediata, priápica, drogada, mas o norte é o prazer. Cada um pode descobrir onde encontrar sua paz de espírito. E a felicidade é por aí: paz interna, ansiedade baixa. E não precisa de final feliz com multidão aplaudindo, como é comum em filmes americanos, em que a felicidade precisa de testemunha. Pelo contrário, muito pelo contrário, quanto mais íntimo, melhor. Apesar de tão antigas, essas noções não estão bem colocadas na cultura.

O nunca assaz louvado também já tocou a mesma melodia: a cultura, até a sagrada Educação, nos leva a equívocos perigosos. Numa nota de rodapé de seu Mal-estar da civilização, diz que a educação não orienta os jovens a lidar com a sexualidade e a agressividade fundamentais que encontrarão em si mesmos e na realidade. “Ao encaminhar os jovens para vida com essa falsa orientação psicológica, a educação se comporta como se se devesse equipar pessoas que partem para uma expedição polar com trajes de verão e mapas dos lagos italianos”. Segundo Freud, a educação deveria dizer: “é assim que os homens deveriam ser para serem felizes e tornarem os outros felizes, mas [vocês] terão de levar em conta que eles não são assim”. Entretanto, “pelo contrário, os jovens são levados a acreditar que todos os outros cumprem essas exigências éticas – isto é, que todos os outros são virtuosos”.

...

Hilde, em comunicação paralela, ou seja, fora dos comentários do blog, me alertou que quem entrar no blog hoje não vai entender nada. Por culpa minha: tenho trazido o subterrâneo à tona, tirado dos Comentários. Ela acha que preciso manter a página de rosto com artigos. Que técnico seria eu se não ouvisse meio-campistas como Zito, Didi, Dunga, Gérson, Tostão e Pelé? Um comentário como esse, da analogia vida-futebol que rola nos Comentários atualmente, segundo ela, não seria entendido.

Mas perdi o fôlego para artigos longos. Pelo menos, por enquanto. Ou graças a Deus.