terça-feira, 1 de maio de 2007

Morrer é difícil, mas há uma recompensa: não morrer nunca mais

Esperança é o pior mal. A verdade é um erro sem o qual não podemos viver. Os inimigos da verdade não são as mentiras, mas as convicções. Deus está morto. A recompensa final da morte é não morrer mais.

Dr. Breuer, o médico que inspirou a psicanálise, ouve essas frases de Nietzsche e não consegue dormir. Está na página 75 do romance When Nietzsche wept, Quando Niezsche chorou, que leio no original para treinar meu inglês (treino algumas habilidades, enquanto estou vivo, a principal, a de viver como nasci e como morrerei, sem falsas ilusões e esperanças vãs). Breuer ouve outras como Médicos não têm o direito de privar um homem de sua própria morte. Não consegue dormir porque sabe, no fundo do coração, que Nietzsche está certo.

E ainda, Torne-se o que você é. Pensei que esta fosse um achado freudiano, pois a psicanálise parece não pregar outra coisa, além disso, e de aprendermos a compreender (o mais rápido possível) porque fazemos o que fazemos, o motivo de nossas ações.

A grega Conhece-te a ti mesmo é uma parenta ancestral e próxima de Torne-se o que você é. Decifra-me ou te devoro e Ama o próximo como a ti mesmo são, na minha modesta, parentas de Não faça ao outro o que não deseja a você mesmo.

Pensei que não houvesse mais frases de sabedoria profunda que ainda não tivesse ouvido ou lido. Mas agora, num bestseller, Morrer é difícil, a recompensa final da morte é não morrer mais.

Pelo jeito, terei o que aprender até o último suspiro: é o que nos resta. Viver é perigoso. E para profissionais. Mas espero que médicos, esposa e filhos bem intencionados não cortem o meu barato.

4 comentários:

Hermelino Mantovani disse...

Rodrigo-não-quer-abrigo escreveu uma mensagem linda no endereço que ofereço aos que não querem comentar publicamente. Rodrigo entende muito de blog e está virando meu professor, mesmo eu sendo um aluno lento. Por favor, professor, agora, ensine a Claudia, que tentou postar um comentário e não conseguiu (e também usou o email pessoal para uma mensagem igualmente linda) a postar publicamente, como ela gostaria de fazer, e fiz pro ela, ao copiar, abaixo deste, seu comentário à mensagem anterior.

Hermelino Mantovani disse...

Oi Hermelino

Não consigo postar lá no blog, já tentei umas três vezes, então vai no particular.

Marido melhor amigo pode ser meio romântico, mas marido grande amigo
eu diria que é quase fisiológico. Se o casamento não permite alguma
liberdade a segredos, como o das fantasias, por exemplo, vai para o
brejo rapidinho. As fantasias, o sentir-se desejado e o desejar outras pessoas, não necessariamente do ponto de vista sexual, mas sem perdermos o fio da meada que nos faz necessariamente sexualizados, é um aquecedor do casamento. É gostoso pensar e sentir que se não estívessemos casados, daríamos conta de fazer amor com outro ser humano, que não o marido, que poderíamos fazer felizes outros e que outros poderiam nos fazer felizes, nos desejar tão ardentemente quanto
o marido. Isso é sentir a vida, a pulsão, a pulsação da vida em nós.
A morte do casamento, às vezes, senão sempre ou quase sempre, começa na morte do desejo, maior repressão não poder desejar, não permitir que nos desejem. Desejo é muito, quase tudo. É gostoso caminhar na praia com o marido e perceber que ele está vivo, que mesmo dando conta do recado em casa, mesmo desejando a mulher na hora da concentração, na dispersão está livre e de rabo de olho observa outros corpos, tão ou mais bonitos, mais magros, mais gordos. A coroa que passa e dá um sorrisinho para o marido, está ali a serviço de aquecer o casamento.
Epa, é preciso trocar o óleo desse cara, tô no páreo. Um pinguinho de
histeria não faz mal algum, só ajuda. É uma delícia ver a beleza da juventude, observar os maduros enxutos e depois chegar em casa e crau: amassar, beijar e rolar com o marido, aquele que sabe os jeitinhos, divide as contas, ajuda a cuidar da prole, se banca. Amar tem bastante a ver com gratidão, com o reconhecimento de que aquele ali presente é o corpo que cabe para realizar no ato as melhores e maiores fantasias. Amar está distante anos luz da inveja, da vaidade, da moral, do ciúme,
que reprimem o desejo. Os pintas vão à praia e ficam regulando seus
olhares, depois chegam em casa e não sobrou nada, não há que o somar, não há o que dividir e muito menos o que multiplicar, afinal o boicote ao desejo do outro é que está vicejando. Nada mais surpreendente que role um bloqueio severo na hora H. O desejo reprimido mata a vida na
hora da dispersão e boicota a realização no momento concentração.
O marido precisa ser um grande amigo, não um padre para quem se deve confessar todos os segredos, um colado, um grude que quer dólares por pensamentos. Um bom lema para o casamento: livres para não trair, com a certeza de que não há lugar seguro em amor algum.
O perigo está na esquina, mas a vida íntima está deliciosa, solidária, então o jeito é curtir o casamento a cada dia como se fosse o último, com o grande amigo, uma pessoa sexualizada, plena de seus desejos.

Claudia

Hermelino Mantovani disse...

Rodrigo, esqueci de dizer: ensine aqui, nos comentários, pois pode servir a outros.

Helayne disse...

Nossa... Muito bonito o que a Claudia escreveu... gostei! Fiquei sem palavras para escrever...Eu até que "tava" inspirada... mas, depois de ler o texto da Claudia...desencanei... escreve lá no Blog do Bueno, pues nada!

Neder... eu tÔ adorando essa brincadeira de ler o teu Blog e por consequência ler os comentários do pessoal que te escreve... A Andreia vai ficar louca... ela é tua super fa e morre de vergonha de eu estar aqui fazendo graça...

Até o próximo comentário ...

Helayne