Segunda-feira, dia mais ou menos tradicional de postar. Tenho apenas vontade de dizer que vivo um paradoxo mais ou menos feliz: quanto mais envelheço, sinto que há mais tempo. “Agora, eu tenho tempo”. Essa frase me ocorreu esses dias, assim, do nada, de dentro, sem que fizesse força para pensá-la.
Acho que fiquei menos ansioso ao perceber que corria atrás de coisas que só me deixavam ansioso: casamento e fama. A cultura, a sociedade, a educação, a religião, o cinema, a TV, e mesmo a psicanálise nos colocam parâmetros de sucesso – estar casado, ser rico, famoso, bonito etc. – que podem não corresponder àquilo que um determinado indivíduo precisa de fato. De todos os equívocos, o casamento é o pior. Nascemos e morremos sós, nossos sentimentos e emoções mais poderosos são íntimos, incomunicáveis ao pé da letra. Como podemos nos orientar para uma felicidade apenas se compartilhada? Entretanto, ‘estar casado’ é apreciado até para candidatos à Sociedade Psicanalítica. É quase como escolher empregada doméstica evangélica: essa não vai roubar.
Acredito que feios, solitários, remediados, anônimos, deficientes físicos, doentes etc. possam ser felizes. Epicuro já mostrou o caminho: procurar o bem-estar, o prazer. Não de forma imediata, priápica, drogada, mas o norte é o prazer. Cada um pode descobrir onde encontrar sua paz de espírito. E a felicidade é por aí: paz interna, ansiedade baixa. E não precisa de final feliz com multidão aplaudindo, como é comum em filmes americanos, em que a felicidade precisa de testemunha. Pelo contrário, muito pelo contrário, quanto mais íntimo, melhor. Apesar de tão antigas, essas noções não estão bem colocadas na cultura.
O nunca assaz louvado também já tocou a mesma melodia: a cultura, até a sagrada Educação, nos leva a equívocos perigosos. Numa nota de rodapé de seu Mal-estar da civilização, diz que a educação não orienta os jovens a lidar com a sexualidade e a agressividade fundamentais que encontrarão em si mesmos e na realidade. “Ao encaminhar os jovens para vida com essa falsa orientação psicológica, a educação se comporta como se se devesse equipar pessoas que partem para uma expedição polar com trajes de verão e mapas dos lagos italianos”. Segundo Freud, a educação deveria dizer: “é assim que os homens deveriam ser para serem felizes e tornarem os outros felizes, mas [vocês] terão de levar em conta que eles não são assim”. Entretanto, “pelo contrário, os jovens são levados a acreditar que todos os outros cumprem essas exigências éticas – isto é, que todos os outros são virtuosos”.
...
Hilde, em comunicação paralela, ou seja, fora dos comentários do blog, me alertou que quem entrar no blog hoje não vai entender nada. Por culpa minha: tenho trazido o subterrâneo à tona, tirado dos Comentários. Ela acha que preciso manter a página de rosto com artigos. Que técnico seria eu se não ouvisse meio-campistas como Zito, Didi, Dunga, Gérson, Tostão e Pelé? Um comentário como esse, da analogia vida-futebol que rola nos Comentários atualmente, segundo ela, não seria entendido.
Mas perdi o fôlego para artigos longos. Pelo menos, por enquanto. Ou graças a Deus.
Acho que fiquei menos ansioso ao perceber que corria atrás de coisas que só me deixavam ansioso: casamento e fama. A cultura, a sociedade, a educação, a religião, o cinema, a TV, e mesmo a psicanálise nos colocam parâmetros de sucesso – estar casado, ser rico, famoso, bonito etc. – que podem não corresponder àquilo que um determinado indivíduo precisa de fato. De todos os equívocos, o casamento é o pior. Nascemos e morremos sós, nossos sentimentos e emoções mais poderosos são íntimos, incomunicáveis ao pé da letra. Como podemos nos orientar para uma felicidade apenas se compartilhada? Entretanto, ‘estar casado’ é apreciado até para candidatos à Sociedade Psicanalítica. É quase como escolher empregada doméstica evangélica: essa não vai roubar.
Acredito que feios, solitários, remediados, anônimos, deficientes físicos, doentes etc. possam ser felizes. Epicuro já mostrou o caminho: procurar o bem-estar, o prazer. Não de forma imediata, priápica, drogada, mas o norte é o prazer. Cada um pode descobrir onde encontrar sua paz de espírito. E a felicidade é por aí: paz interna, ansiedade baixa. E não precisa de final feliz com multidão aplaudindo, como é comum em filmes americanos, em que a felicidade precisa de testemunha. Pelo contrário, muito pelo contrário, quanto mais íntimo, melhor. Apesar de tão antigas, essas noções não estão bem colocadas na cultura.
O nunca assaz louvado também já tocou a mesma melodia: a cultura, até a sagrada Educação, nos leva a equívocos perigosos. Numa nota de rodapé de seu Mal-estar da civilização, diz que a educação não orienta os jovens a lidar com a sexualidade e a agressividade fundamentais que encontrarão em si mesmos e na realidade. “Ao encaminhar os jovens para vida com essa falsa orientação psicológica, a educação se comporta como se se devesse equipar pessoas que partem para uma expedição polar com trajes de verão e mapas dos lagos italianos”. Segundo Freud, a educação deveria dizer: “é assim que os homens deveriam ser para serem felizes e tornarem os outros felizes, mas [vocês] terão de levar em conta que eles não são assim”. Entretanto, “pelo contrário, os jovens são levados a acreditar que todos os outros cumprem essas exigências éticas – isto é, que todos os outros são virtuosos”.
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Hilde, em comunicação paralela, ou seja, fora dos comentários do blog, me alertou que quem entrar no blog hoje não vai entender nada. Por culpa minha: tenho trazido o subterrâneo à tona, tirado dos Comentários. Ela acha que preciso manter a página de rosto com artigos. Que técnico seria eu se não ouvisse meio-campistas como Zito, Didi, Dunga, Gérson, Tostão e Pelé? Um comentário como esse, da analogia vida-futebol que rola nos Comentários atualmente, segundo ela, não seria entendido.
Mas perdi o fôlego para artigos longos. Pelo menos, por enquanto. Ou graças a Deus.