quinta-feira, 19 de julho de 2007

Hildegard, a holandesa voadora, e eu, robô

Hildegard me ajudou a fazer as pazes com os cabinhos amarelos nojentinhos que saem do cérebro e coluna vertebral e percorrem todo o corpo transmitindo ordens e emoções. Num de seus comentários à postagem O corpo humano é uma coisa nojenta, ela escreveu: “estou olhando para o meu computador que tem ‘janelinha’ no gabinete. Lá dentro tem cabinhos de várias cores, plaquinhas, luzes azuis e verdes que piscam e um ventilador que roda constantemente. Acho o máximo, me lembra um cérebro, adoro olhar lá dentro!”

Eu havia dito que a ‘vida’ digital era menos asquerosa que a humana, tinha me esquecido do ponto de vista físico da vida digital.

“O corpo humano é uma máquina linda e útil, que, sim, um dia quebra de vez como todas as máquinas. Mas pense no prazer que o seu corpo pode te proporcionar! Antes da morte, o corpo e a alma estão indissociavelmente ligados (pfffff, custou traduzir ‘onlosmakelijk verbonden’, rs), mas eu não diria que a alma fica presa ao corpo. A alma é capaz de (ab)usar do corpo, mas não precisa dele. O corpo, por outro lado, não é nada sem a alma.”

Embora eu realmente não ache o interior do corpo humano uma máquina linda, o comentário de Hilde me lembrou os filmes Eu, robô e Blade runner. Em ambos, robôs e andróides começam a experimentar emoções e até a temer a mortalidade. Esses “progressos” das máquinas me sensibilizaram e me fizeram torcer por elas, apesar das engrenagens de plástico e da graxa, dos líquidos brancos, das molas nas pernas do robô. Identifiquei-me com seu desejo de sentir.

Coitados, se começassem a sentir realmente, o próximo passo seria desejar a felicidade.

Mas não dá, mesmo para um deprimido, deixar de ver a plenitude desses desejos. Sentir-me como robô ou andróide que querem viver na plenitude da vida humana foi estranhamente bom: me reconciliei um pouco com os cabinhos amarelos.

Meu próximo objetivo é passar a torcer por mim.


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Na semana que vem, não vou escrever. De férias, vou para um lugar onde não há internet: mais fundo na concha. Mas, por favor, escrevam se tiverem vontade. Quando voltar, os comentários me ajudarão, como têm me ajudado, como o da Hilde.

3 comentários:

anna disse...

vc viu uma propaganda que era um robô com aparência humana doido prá ter nossas emoções?
affe... queria eu um segundo somente racional. completamente zen.

boas, férias!
bons sonhos!

anna

Hermelino Mantovani disse...

Anna,

Obrigado pela companhia nesses meses todos. Racional = zen? Boa equação.

Hildegard disse...

See what happens when you let part of your sub-conscience come to the surface?? It refuses to go back down!
Brincadeira. Fiquei feliz que algo que escrevi te ajudou aceitar melhor os cabinhos! Fui ver “O Corpo Humano”. Achei incrível. Obras de arte.
Bjs,
H.
PS Não pode falar que não da para você ler os comentários, assim ninguem escreve....